sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Madrugada

- Acho que o sonho de todos é de ser um só, não? Se fundir. Encontrar aquela completude que se perdeu ao se perder o Paraíso.

- Paraíso de que? Se você não me entende e nem sequer entende você. Talvez o Paraíso seja só um tipo de querer.

- Com isso só percebo que o Paraíso não está em nós. Mas eu ainda quero isso. E acho que sou capaz de conseguir. Porque deposita a culpa toda em mim? Não somos dois?

- Sim, somos dois, dois querendo ser um, um que não admite ser dois. Mas o Paraíso não está em nós, vem, senta. Sente. É tudo isso, acho que é tudo isso que se sente. Você sente?

- (Ri de nervoso) Sinto. Mas eu sinto demais. E me embaralho nessa enxurrada toda de sentimentos. De desejo, de negação, de querer e não saber o que se passa do outro lado. O que VOCÊ sente? O que você diz pra mim é mesmo o que você pensa?

- Penso e digo, as vezes digo sem pensar, e então penso que não deveria ter dito. Mas talvez não me preocupe tanto com o que se passa do outro lado, apenas deixo passar, já não tenho pressa, aprendi a ser tranquilo, e a deixar passar aproveitando os passos que vem dai, e os que vem daqui.

- Não tenho a mesma sorte. Tenho pressa. E tenho medo. Medo de que seja você, medo de que não seja. Se for você, me angustia isso de não nos encaixarmos, de não cantarmos no mesmo tom. Se não for você, quem então? Só aprendi a amar você. Como partir agora de uma tela em branco, a ser rabiscada, se já tenho um quadro denso de cores e expressão?

- Não sei minha flor, e como somos um não sabemos nós. Nem sabemos de nós, mas vem cá. Senta. Sente. Você pode me dar a mão até o medo passar, se for eu, já estaremos de mãos dadas. Mas agora não é mais hora. Fico de mãos dadas até você dormir, depois vou embora, e nos vemos uma outra hora, vou pra casa torcendo pra que essa hora não seja tão longe de agora.

* parceria com Thiago Botana

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