segunda-feira, 26 de abril de 2010

Coca-cola com cereja

Gosto de fazer um ritual para tudo que é sabidamente a última vez.

Sei que agora é a última vez que sentirei o gosto de coca-cola com cereja desse meu batom (já que resta dele apenas um milímetro) e lambuzo minha boca inteira com esse restinho, me deliciando.

Sinto a aspereza do plástico que se pronuncia, delimitando o espaço em que antes se erguia um cone vermelho.

Fricciono os lábios, deixando que escorreguem um no outro com prazer.

Sinto o seu aroma e seu sabor divertido.

Assim me despeço.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Silêncio


Quando era menina, morria de medo do silêncio compartilhado. Sabe? Aquele que aparece quando duas pessoas não têm ou não sabem o que falar ou (descobri mais tarde) simplesmente não acham que se expressar verbalmente seja necessário.
Dava um constrangimento louco, uma vontade de sumir, de sair correndo. Eu chegava até a evitar situações em que poderia ficar sozinha com alguém, por medo de isso acabar acontecendo.

Bem, cresci. E acho que junto do processo de amadurecimento passei a gostar cada vez mais do silêncio. Mesmo do compartilhado. Ou principalmente dele.

Dizem que o silêncio é o que chega mais próximo da manifestação de Deus. Tenho de concordar.
Quando pessoas têm entre si apenas a ausência de som (incluindo o barulho mental) é o sentimento de comunhão que surge. E elas se ligam no laço mais intenso que pode existir.