quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Everything is illuminated

O prazer está na geração de vida, de movimento.
Conceber uma idéia é prazer, seu desenrolar é prazer, sua conseqüência é prazer.
Acho uma delícia ser mulher. Símbolo da criação.
Mulher-planta. Emociona ver um novo botão de flor, uma folha crescendo.
Sinto ser Amarylis, a flor em abertura máxima, pétalas vigorosas, vermelhas, excitantes; pistilo firme e receptivo.
Eu sou. Eu sou agora. Não o resultado matemático da somatória de tudo o que passei, nem algo a se completar no futuro.
Sinto poder tudo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Coração inflado

Bexiga vermelha sem limite de expansão. Às vezes o gás escapa e condensa-se em líquido. Sai pelos olhos.

Alimenta-se de:

- Raios tímidos de sol entre nuvens / raios desinibidos de céu escancarado
- Respiração de todos os homens, mulheres, plantas e animais
- Vibração das cores e do celular ao receber uma mensagem amiga
- Ranger das bicicletas passantes e da escada de madeira da casa de uma tia querida
- Suor dos corredores das ruas / suor depois de dançar a noite inteira
- Cheiro de flor e de feijão
- Gostar do que se faz todos os dias
- Rabo de cachorro balançando à espera de um carinho
- Carinho dos amigos, se sentir querida por eles, olhares que se entendem
- Carinho da família
- Cafunés, apertos, beijos, abraços, colo (dar e receber)
- Conquistas profissionais, amorosas, amicais, interiores
- Tomar banho no escuro
- Dividir experiências, comida, cadeira, roupa, cama
- Cantar, cantar, cantar
- Encontrar deus em você, se amar, amar a tudo
- Ser verdadeiramente útil a alguém (ou a várias pessoas)
- Respirar
- Agradar o corpo, respeitá-lo, desenvolvê-lo, alongá-lo
- Ler, ler, ler
- Conhecer pessoas, lugares, histórias, tudo que é conhecível
- Escrever
- Música (intencional ou não), fazer música, ser música
- Dedicação
- Concentração
- Saber que se é feliz agora
- Risos, gargalhadas, sorrisos
- Botão, de flor ou de camisa
- Fruto, de árvore ou da sua criatividade
- Folha, de planta ou de papel
- Intensidade, densidade
- Leveza
- Verdade
- Honestidade
- Confiança

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

à caneta

Quando penso em escrever, aponto o lápis mais macio até deixar sua ponta bem fina.

A caligrafia deve ser leve, bonita, redonda, na tentativa de influenciar o conteúdo que transporta.

Eu gosto tanto de grafite, acho que por poder apagar, não deixar vestígios.

Agora noto que assim levo a vida.

Acostumei a escrevê-la a lápis, contando com a chance de depois apagar e reescrever. Ela, tolerante comigo, fez com que assim fosse.

Mas o belo que vem da leveza não basta, não compensa.

É preciso densidade. São necessárias as marcas.

Em uma vida pra valer, “só pode à caneta”. Lembro da professora dizendo isso em dia de prova e do quanto eu não gostava.

Não prometo mudar o gosto. Meu fascínio permanece pelas coisas fugazes, de que me desfaço sem sofrer.

Posso passar a escrever com grafite só por hobby, mas usando tinta para os textos da vida.