sábado, 10 de novembro de 2012

Colecionador


Ele colecionava cada gesto seu, cada minúcia de olhar, de expressão. Lhes dada os seus significados interpretados e os catalogava.

Havia aqueles usuais, figurinhas recorrentes. Havia também aqueles usados em situações um pouco mais específicas. E havia aqueles tão inusitados que acreditava nem ela própria conhecê-los.
Era pelo encontro desses que mantinha a sua paixão de colecionador.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Encomenda


Um ano em que não nos vimos foi
Tal qual o tempo da noite pra virar dia.
Um revirar na cama, ansioso.
Um despertar madrugueiro.
E então o seu rosto.
E então o seu cheiro.
E aquela certeza que vem sei lá de onde
Mas que tudo domina:
Prolongaria qualquer instante
Com você até o fim da vida.

Se me pede que espere
Por um tanto de seu cheiro,
Um tanto de seu abraço,
Sem mais embrólio e quiprocó,
Esperar é o que faço.

(Poesia encomendada pelo amigo Bruno Leardine)

domingo, 9 de setembro de 2012

abafado

Abafado aqui dentro.

Sensação que não sai nem com banho gelado.
Nem depois de todas as janelas escancaradas.

Parece que só vai refrescar daqui uns dias.
Com o sopro do seu assovio ao abrir a porta.

sábado, 26 de maio de 2012

amarelo

Quando o sol vai pintando tudo de amarelo,
Vou à janela e entro na tela,
Na espera da tinta também chegar em mim.

reencontro

Tem vezes que me encontro mais.

E nessas vezes
Todo pensamento é poesia,
Todo som é melodia,
Toda cena é de cinema,
Todo gesto é dança,
Toda alma é de criança.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

as sombras e eu

na madrugada tomamos corpo.
as sombras e eu.

elas cinza e eu transparente.
elas definidas e eu abstração.
elas na parede e eu no ar.
elas reprodução e eu criação.
elas abajur e eu luz da rua.

desliga-se a luz. fecha-se a janela.
elas apagam, eu adormeço.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

alcachofra


O novo vem como botão de alcachofra.
Da flor se tira pétala a pétala.
Primeiro as maiores e mais aparentes
Depois as mais miúdas e escondidas
Para enfim alcançar a zona de espinhos.
Muitos então desistem, ignorando o que repousa embaixo.
É aos valentes que cabe encontrar o coração.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

timo

A gente sente no corpo. A ansiedade dando um nó na garganta, o amor estufando nosso peito e a tristeza o fazendo minguar.
Mas afinal, da onde isso tudo vem?
De uma glândula enrugadinha e irregular que cresce e diminui de acordo com o que a gente sente. O timo fica lá atrás do pulmão, em cima e na frente do coração.
É sensível a imagens, cores, lugares, cheiros, sabores, gestos, toques, sons, palavras, pensamentos.
Além de tudo, é essencial no sistema imunológico, produzindo células de defesa.
Antes de botarmos todo o crédito no coração, vale lembrar desse tal de timo.

sábado, 28 de janeiro de 2012

inspira, expira.

Quando meu corpo acorda se sentindo incompleto,
Quando cada célula dele grita por você,
Eu só peço que se acalme e volte a dormir.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

coração balão



Meu coração é feito um balão.
Sopra o vento quente da alma
E vai ele crescendo, crescendo,
Até fazer o corpo todo flutuar.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

entre os dedos

É entre os dedos, naqueles vales,
Onde guardo a lembrança cheirosa
Daquilo que amo.

É entre os dedos e não na palma.
Porque, na verdade, nada se tem.
Tudo escorre.