Um dos eus planejava uma fuga.
Selecionou na memória todo o conteúdo que havia apreendido nos filmes de agentes secretos. Precisava ser impecável para que o outro eu não notasse a sua saída. Muito menos as outras pessoas.
Corda, mosquetão, polia, freio, capacete com lanterna, luva, pás, cadeirinha para escalada, avião à jato, uma equipe de apoio treinada e pronta para agir.
Escalou todo o percurso em escuro profundo, superando superfícies lodosas, sinuosas, frágeis, pulsantes, até que – já exausto - encontrou uma fresta que dava para a luz: uma boca estagnada, semiaberta, hesitante, desejosa de exprimir o que as palavras raramente são capazes.
A língua, incomodada com aquela movimentação, coçou-se toda, tentou identificar aquilo que estava em cima dela, entender o porquê de estar ali, mas então desistiu.
E o engoliu em seco.
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