sexta-feira, 19 de março de 2010

Dezesseis



Aos 16 ela era apaixonada por tudo. E também por um garoto da outra classe. Ele a encantava por sua inteligência, seu mistério, sua cultura, seu jeito amigo e a segurança que passava.

Tornou-se sua amiga para ver se assim ganhava os abraços dele. Uma vez abraçada, sentia-se tão protegida e confortável, que de lá não fazia sentido sair nunca mais.

Começaram a ficar próximos, conversando por telefone e computador, um descobrindo a vida do outro aos poucos. Mas para ela aquilo estava sendo um tormento. Cada vez mais fixa a idéia de lhe contar o que sentia, decidiu fazê-lo na festa de uma colega de turma, onde sabia que ele estaria presente.

Estava com o vestido mais lindo que encontrou: um lilás manchado, cor de fim de pôr do sol. No meio da festa o viu. Aproximou-se e iniciou timidamente a fala que havia ensaiado.

Mas ele não deixou que ela terminasse, nem que chegasse a dizer com um mínimo de clareza o que tanto queria. Ele disse que precisava ir embora e desapareceu.

Foi então que começaram as lágrimas e a produção intensa de poesias de amor, mas desgostosas, sofridas. Ela fazia questão de mostrá-las ao professor de literatura, que a incentivava.

Chegaram as férias de janeiro e viajou para a casa de sua avó em Minas. Entre baladas de violão na praça e festas nas casas dos amigos, conheceu um rapaz alguns anos mais velho, com quem de cara se identificou. Conversavam por horas os assuntos mais deliciosos, escreviam juntos e compartilhavam a beleza de tudo.

Pena tê-lo conhecido já no fim das férias. Mantiveram contato por computador, telefone e cartas. Ele era romântico, a chamava de “Ma Belle” e ela se derretia. Dizia ter descoberto o homem mais especial que existira e que com ele iria se casar. Não sei se falava a sério ou não.

Voltaram as aulas e, mesmo decidida a nunca mais pensar naquele garoto, isso era algo que não se conseguia muito evitar. Ainda porque agora estavam na mesma classe.

Esse foi o semestre em que teve a sua primeira banda predileta. No seu rádio só variavam os discos “Bloco do Eu Sozinho” e “Ventura”. Foi em todos os shows que a banda fez em turnê na sua cidade, sempre junto a um grupo do qual ele também fazia parte. E isso os acabou aproximando de novo.

Um dia se fez passar por seu primo na internet e conversou com o garoto. Acabou tirando a informação que precisava: ele gostava dela! Foi assim que a menina não sossegou enquanto eles não estivessem juntos.

Depois de muita conversa, choro, dezenas de poesias e o coração ansioso, se encontraram em baixo de uma árvore com luz de lua cheia e o céu enevoado no dia 31 de julho de 2004.

Falaram de seus sentimentos e vontades e por fim juntaram suas escovas de dente.

* ilustração de Natália Lemos.

2 comentários:

  1. tom auto biográfico. mas e o tal menino das férias?

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  2. me lembro desse tal período, pelo menos no início dele, como era essa guria.

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