segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Cena

No palco, calçada de rua residencial, ela vê surgir um personagem.

Mulher negra, uns 50 anos, cabelos amarrados com enfeites de cor chamativa, altura média (em torno de um metro e sessenta), corpo bem farto de carne, coluna levemente arqueada para frente.
O rosto não pôde ser visto. Esteve todo o tempo voltado para uma única casa daquela rua.
Alguns longos minutos deve ter ficado lá, com os olhos fixos.
Eis que pinça de um recipiente em sua bolsa um punhado de não-se-sabe-o-quê e o espalha uniformemente na calçada da frente com lançamentos leves e cuidadosos.
Sua intenção parece ser de semear e fazer brotar algo naquele concreto verde.
Pára e olha com atenção o trabalho feito.
Distancia-se um pouco. Faz que vai, não vai.
Atravessa a rua e sai da cena.

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