Ele era um químico febril. Sua fonte de prazer eram os experimentos, a combinação dos elementos mais inusitados. Fazia seus testes em diversas condições de temperatura e pressão, com e sem imersão em álcool, em alta e baixa concentrações dos componentes, com ampla e restrita região de contato entre eles, havendo ou não agitação.
Extasiava-se ao acompanhar em que grau o elemento-base se modificava, o que agregava do outro, o que cedia de si. Se mudava de cor, sabor, cheiro, forma. Se passava a se comportar de modo diferente.
Tanto estímulo, tanta reação, uma hora a solução saturou. Acrescentando o elemento que fosse, o resultado era sempre o mesmo.
O químico entrou em crise, surtou. Afinal, qual seu desafio agora? Maldisse a vida, Deus, a química. Desejava desaparecer até que tudo voltasse a ser como antes.
Parou então para pensar o que exatamente o detinha ali. Se seu interesse era no elemento-base, nas suas várias possibilidades, o sentido estava em dedicar-se somente a ele, a descobrir seu estado mais puro.
Voltou-se ao béquer, isolou e aqueceu a solução até que atingisse a maior concentração. Fez também uso de alguns catalisadores, que aceleraram a velocidade do processo sem interferir na composição química básica.
A essência foi sendo desvelada e cada característica que se fazia nítida era anotada pelo químico para efeito de registro.
Com seu caderninho já repleto de anotações, sentiu-se desprendido. A qualquer momento podia recorrer à leitura do mesmo ou gravar nele novas impressões.
Despediu-se do laboratório, dos equipamentos, dos vasilhames e foi viver.
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